“Alguém para preencher seu coração…”

Na próxima lua, ele dissera, com seus olhos adquirindo uma profundidade que só aquele ancião tão sábio e caridoso teria, me fitando para adicionar uma porção extra de credibilidade em suas palavras que transbordavam mistério e também esperança.

Confiei em suas palavras, assim como sempre confiei em tudo que me disse ao longo dos anos, mas, verdade seja dita, eu não poderia esperar de fato que alguém viesse, que eu não estaria mais sozinha e que alguém alcançaria o órgão vital dentro de meu peito.

Aconteceu que chegou alguém com seus 1,65m que entrou sem que eu conseguisse tirar aqui de dentro ou, melhor dizendo, que eu não quisesse sequer pensar na ideia de não sentir esses tremores que ela provoca de onde está. Eu não esperava que alguém tão diferente de mim fosse deixar tanto em comum, a reciprocidade se não fosse tão doce seria difícil de engolir pela estranheza do acaso.

Com seus cabelos escuros de ondas perfeitas, ela tem a essência no cheiro que não me deixa querer respirar longe de sua pele, seus cílios fartos me deixam invejar o rímel dispensável, assim como qualquer maquiagem, sendo essa mesma naturalidade que me deixou como quem cai no sono, gradual e então de repente, irremediavelmente entregue ao amor por ela.

Eu não posso negar que rir com ela é mais leve, que ver os olhos dela abrirem devagar a cada manhã me fazem querer acordar sempre minutos antes para poder assisti-la, eu queria não pensar que a lábia dela é ardilosa a ponto de me fisgar, mas não posso evitar como eu adoro cada face da personalidade forte e imponente que ela carrega com tanta graça.

Não poderia me enxergar com raiva ou algo negativo com relação a ela, nem mesmo estar longe dela.

É como se dançássemos uma música que toca apenas em nossos ouvidos, uma melodia que se compõe a cada entrelaço de dedos, quando nossos corpos se juntam e nossas almas colidem num liame fervoroso, como se nossos quadris se mexessem no disparar de nossos batimentos que me saltam o peito a cada proximidade de sua respiração em meus ouvidos, cada toque de nossa pele.

Estranho seria se eu não a reconhecesse, se eu deixasse ser como um dejà vú em que insisto que é apenas alguma impressão dos meus sentidos, precipitação e leviandade quando claramente se trata de um reencontro fadado a se repetir em cada uma de nossas encarnações.

Quando há algo a ser sentido, quando estremece cada ínfimo pedacinho de sua mente, de seu corpo e de seu espírito, nada tão ilusório como o tempo poderia se responsabilizar por concluir o que é ou não é para ser, tampouco aquilo que está claro em cada olhar sustentado, quando seu coração sorri e agradece por ter ela em sua vista, ao alcance do destino de concretizar sua união.

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