Há anos que meus banhos são no escuro, desde que me fiz perder a fobia e passei a me sentir mais confortável pela sensação de coragem e exercício do autocontrole na ausência de luz.
Eu não tenho problemas em dizer que meus amigos não ocupam nem os dedos de uma só mão. E para ser franca, apenas uma pessoa já me mostrou a verdadeira amizade e prevaleceu em sua unicidade.
Eu nunca me encaixei na idade dos documentos, meu corpo disparava na frente e meu intelecto dava outros pulos ainda mais longe.
Eu não sei bem sobre o problema em me socializar, algumas pessoas que acabo de conhecer conseguem saber cada vírgula minha que pontuei, outras passam anos esfregando na minha cara quão reservada sou e que me desconhecem. O mecanismo das paixões não deixa de ser descomunal, eu fico em cima de uma faca que hora corta o meu coração e hora o de outrem, me apaixono e desapaixono em poucos dias ou então passo anos acreditando em um único e verdadeiro amor.
Chego a provocar uma morte tortuosamente lenta para até mesmo familiares mais próximos para, em seguida, secar lágrimas de felicidade ao sorrir, agradecida, por uma família maravilhosa.
Acostumei-me ao patinho feio e gordinho que se achava fofinho, e a ideia de uma mulher sexy, inteligente, atraente e bla, não faz digestão quando me enfiam goela abaixo. O meu corpo já foi de auto-mutilado à adorado. Ando na linha tênue de jejuar por quase dias inteiros e me entupir de glicose e gorduras fatais.
As músicas tristes fazem-me sentir abraçadinha e não demora para que eu me sinta melhor e em algum momento feliz.
Os fumódromos não deixam de ser meu local predileto nas saídas noturnas, me perco nos números ao lembrar as graças que colhi nesses lugares fumacentos (além de plantar sementes de pulmões cancerosos).
Nem eu sei como me expresso.
Algumas vezes eu me vejo tão esclarecida sendo que outros não vislumbram nem uma centelha de ordem e declaram-me responsável por ter instaurado o caos em mim e projetado ao restante da nação. É absurdamente fácil eu me culpar até pelo tempo do outro lado da janela, e capaz de julgarem que não admito erro nenhum de minha responsabilidade.
Tenho uma fixação irremediável por águas-vivas e o motivo está em: Turritopsis nutricula.
Não paro de criar expectativa para depois adestrar decepções, por mais que eu me policie.
Nada do que eu tenho é importado, roupa, perfume ou calçado.
Tem coisa demais na internet e quando me veem como um ET por não estar “por dentro” de alguma febre eu mais dou de ombros do que busco reverter o quadro.
Fotografia me preenche de formas que sequer tento pintar com palavras (e essas me encantam de forma similar). Nu artístico é indescritível e cuidado com os silogismos nessa premissa maior (ei de fazer um, sem mais).
Falam de minha doçura e/ou acidez, bondade com maldade e eu não sei disso.
Pouco caso com deboche, orgulho exacerbado e descabido é nauseante, falta de decisão quando necessária também. Ver nariz de palhaço na minha cara é o hobby da sociedade. Se eu falar de hipocrisia, repressão, preconceito, discriminação, falso moralismo, intransigência e afins… Não dá de terminar.