Outra vez com falta de ar, abro bem a boca, puxo o ar até chegar nos pulmões e a dor indicar que o prendi ali por tempo maior que o necessário (repito por vezes, como se eu fosse me convencer de estar respirando ou sei lá).
Eu diria que a sala está vazia, mas não é verdade. Meus pais estão no quarto e minha irmã também, mas há alguém aqui (e há mais coisas em mim também, inclusive no lugar em que eu deveria estar).
Há poucos minutos a televisão iluminou o sofá maior que supunha-se estar desocupado, mas o que apareceu num jogo de luz foi uma garota, vi seu corpo e sua roupa, estranhamente sua cabeça não entrou em meu campo de visão, o que fez o susto quase que incompleto. Suas pernas eram compridas, sua roupa clara e convencional. A propósito, ela parecia estar mais a vontade do que eu, com seus pés no encosto do sofá como quem se entretém satisfatoriamente. Como que acostumada com minha companhia, também, ela não pareceu estranhar ser observada por mim e permaneceu ali. Desviei o olhar e fiz que nada havia acontecido – e quem me garante que aconteceu ou não?
Não é nada. Nunca é nada. E eu não sei quando é que seria diferente disso.
É que eu não sei mais o que seria normal ou não, o que é o normal? Inicio conversas com “prova que acordei, me prova que estou aqui” e não chego a lugar algum. Olha, eu não sei o que está acontecendo (e não sei se o que está acontecendo é ou não é comum por que, o que seria comum?).
Não é que eu esteja mergulhada na fantasia, é que eu não me acho dentro ou fora dela, sigo sem saber dela e sem saber de mim.