Não sabia se o silêncio, o estranhamento com o tempo, os devaneios e distrações constantes ou o que diabos tudo aquilo representava – se é que havia algum significado ou algo a ser dito. Mas ela reconhecia o sentimento. Sentia com cada centímetro do canto que começara a protestar conforme foi se expandindo, sendo esticado em diferentes direções ganhando cada vez mais terreno. Ela estava perdida. Não sabia mais o que identificar, o que inventar, ao que protestar, o que fazer ou falar. Ela perdera as noções de tempo, certo ou errado. Ela podia deitar durante dias e imaginar terem se passado alguns minutos/segundos/horas. Quem se importa.
É o que acontece quando o acúmulo de tempo não se diferencia de qualquer outro amontoado de coisas pequenas ou grandes, que se projetam de maneira regular, ou é como você pensa, para depois se revelar assombrosamente imenso com um piscar de olhos. Os olhos dela piscavam num intervalo de mês, quem sabe. Queria agarrar a chance de se alçar naquele cenário onde seus olhos podiam se dar ao deleite de presenciar o teatro particular pelo qual era grata ainda ter acesso, mas parecia que também perdia os horários e seu bilhete premiado perdera a validade.
Sabia que poderia ser valioso, e com certo pesar admitia estar mesmo desperdiçando uma boa quantia de coisas, mas quem é que estava contando? Em alguma parte sabia que a torneira pingando era um lembrete que forçosamente a impedia de abraçar o torpor que estendia gentilmente seus braços para içá-la por mais alguns anos. Contudo, não podia ignorar tal lembrete. A lembrança era a dela. Os sorrisos, as palavras, os flashes. Sua arte. As imagens eram avermelhadas, regadas de algo puro e luminoso. O que, de muitas maneiras, sobrevivera ainda mais forte e determinado a permanecer do que estivera no princípio. Numa espécie de arranjo, singularmente similar com o seu correspondente ao que sabia ser eterno.
E isso bastava, ela não sabia se havia mais para mantê-la, mas sabia do que precisava ser mantido. E as duas com toda a certeza preenchiam honrosamente a categoria.