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Simples sem ser fácil.

Elegi seu perfume o cheiro mais cheiroso desde que esteja em você.
Vi nos seus olhos uma luz como guia.
Com suas mãos enxergo meu caminho.
Em ti não tenho apenas abrigo, de ti nada tenho, apenas a faço do que sinto, mas não escolho senti-lo.
Eu já não sei o que faço. Sei bem o que sinto, e até por isso menos sei do que faço, menos sentido tenho e menos me basto.

Convença-me!

É muito fácil se perder em universos paralelos, são tantos!

Até o ar parece estar mais resistente, se opondo a entrar em meus pulmões e me deixando com a respiração falhada.

O pulso ainda pulsa, preguiçoso, numa lentidão que transparece o cansaço, sem motivação e sem credibilidade. 

Os olhos não piscam normalmente, esgazeados, levando não poucos minutos para perceber que não vejo nada do que encaram.

A zonzeira não é só mental, a labirintite eleva o grau das coisas parecerem girar, girar e girar mas só. Até eu cair como ontem.

O céu parece só um véu que cobre as coisas, abafa o cenário e não nos deixa escapar para o que tem depois dele.

A mudança de lugares parece troca de cenários, imposta numa tentativa fajuta de distração.

Os edifícios, as estruturas, até móveis e eletrônicos, parecem que sem demora vão se dissolver – mas demora, só que a ansiedade me dá o feedback de que continuo na espera.

Fico atenta ao vento, as vezes acho que com ele as coisas vão quadricular, dar aquela pausa ou só travar como numa transmissão via satélite que perde o sinal, um problema de conexão ou coisa assim.

Ser uma pessoa tem se tornado demasiado complicado, perdi o senso do certo e do errado, já não sei mais o que é convencional e o que não é, a normalidade não faz sentido ou eu que não sei senti-la, estar acordado em muito se parece com estar dormindo, a ilusão pode ser real, a existência não me convence de sua verossimilhança.

Encaro o espelho, vejo um borrão esfumaçado, um vidro, uma massa de pão – vejo o que for, nada vejo.

As vozes dos que estão próximos a mim não são apreendidas, levo tempo demais para perceber que tenho de responder e formar uma resposta, ou só o faço sem saber que o fiz – depois me questiono: “O que eu disse? Disse? Ou só pensei em dizer?”

Não é bem como estar no piloto automático, é mais como não saber onde se está e o que é que seria. Eu não faço ideia do que está acontecendo porque, na verdade, eu não acredito que esteja acontecendo de fato.

Eu não me vejo aqui. 

Queria parar com isso de vez, mas parar com o quê? É necessário que se tenha uma vida para tirá-la, eu não acredito que esteja viva. Mesmo.

Do u mind?

Você se importa se eu te levar pra casa essa noite? Fico outro dia também, caso não tenha problema. Você se importa de vir para casa comigo? Ninguém nos veria, então não precisa ficar tímida.

Você se importa de eu te dedicar mais alguns versos? Você se importa de estar nos meus sonhos? Você se importa de eu vestir algumas lágrimas que me deu? Você se importa de eu te carregar num pensamento constante? Você se importa de eu continuar a te querer? Você se importa de ser minha vontade fixa? Você se importa de eu querer te massagear? Você se importa com eu sentir demasiado sua falta? Você se importa de eu procurar pelos seus olhos em cada face? Você se importa de fazer refugio em meus sonhos uma vez que fugiu de meus dias? Você se importa de me conhecer e saber quem eu sou de fato algum dia? Você se importa de marcarmos uma hora para retomarmos aquele romance inventado? Você se importa de aproximar seu cangote para eu cheirar? Você se importa de deixar minhas mãos passarem pelos fios de seu cabelo, contornar seus traços e repousar em suas coxas? Você se importa se eu marcar nossa viagem? Você se importa de ouvir algumas músicas que não são hits nenhum comigo? Você se importa se estudarmos algum idioma que não sabemos? Você se importa se eu projetar você no meu futuro? Você se importa se o que eu planejar te envolver? Você se importa de aumentar nossas piadas internas? Você se importa de desabafar comigo, só pra eu saber que tem confiança em mim e eu só sossegar quando se sentir melhor? Você se importa de eu ser sua enquanto quer outra e jamais foi minha? Você se importa de eu me alimentar do nosso passado? Você se importa se eu ainda quiser te levar a cerveja e te fazer sopa? Você se importa de eu ter tantos elogios pra ti? Você se importa de eu querer nos colocar em algum protesto ou movimento das minorias? Você se importa de eu pedir por você em cada batida do meu peito vazio? Você se importa de ser importante mas não se importar? Você se importa de eu insistir por outros dez meses? Você se importa de não ser esquecida? Você se importa de eu não te superar? Você se importa de eu te guardar em cada centelha minha? Você se importa se eu deixar de me importar?

Se for, que seja.

Se for para eu arriscar, que eu tenha o seu amparo. Se for para eu me aventurar, que seja em cada detalhe seu a ser mostrado. Se for para escancarar, que seja seus sorrisos não só em dias ensolarados. Se for para eu me mostrar, que não seja só o melhor lado. Se for para te apoiar, que também seja em algo delicado. Se for para conturbar, que eu te acalme sem atraso. Se for para eu estar contigo, que não seja perdida, mas envolvida em harmonia. Se for para eu me entregar, que não seja entrecortado. Se for para cuidar, que seja de bom grado. Se for para eu pedir, que não seja o seu afago. Se for para demonstrar, que me deixe encantado. Se for para compartilhar, que não tenha timidez mas que o faça sem insensatez. Se for criar, que não seja só o inusitado, mas livrai-nos de só amores inventados. Se for se gabar, que se encha da razão, mas não deixa de me estender a mão. Se for perpetuar, que não seja só na memória, que faça durar como o começo de nossa história. Se for para escolher, que possamos sempre não só nos ver. Se for para estar, que seja em seu abraço, se for para morar, que eu continue em seus braços. Se for para crescer, que seja acompanhado. Se for para agir, que não seja para te ferir. Se for para aproveitar, que eu esteja contigo sem (me) acabar. Se for desejar, que não seja de mim se distanciar. Se for hesitar, que não deixe de se permitir a nos experimentar. Se for tentar, que tenha a coragem não só de esperar. Se for melhorar, seja o meu par.

E se? E se nada.

E se eu chegar a ver suas fotos e não sentir essa bala que parece me atravessar o peito, se o ar não ficar ali contido, espremer as costelas e apertar o coração que parece se atrever a ir mais fundo onde se esconde e não mais o acho? E se eu parar de procurar por sua companhia quando não volta a fazê-la minha? E se eu realmente apagar os seus números que não quis decorar? E se nunca mais nos falarmos de fato? E se foi só ilusão e ficar por conta do acaso? E se agora que choro, com o rosto machucado, com sentimento trancado, eu deixe pra lá o que não me deixa? Eu só insisto em causa perdida. E se eu fosse mais bonita ou interessante? E se eu fosse quem você queria, você se renderia? E se eu deixasse de querer, você ligaria? E se eu não te procurasse mais, você notaria? E se eu continuar por outra dezena de meses com as mesmas lágrimas, você cederia? E se não fossem lágrimas, se eu te cobrisse de alegria, você deixaria? E se eu ousasse te alcançar, você se entregaria? E se eu te perseguisse para te mostrar como posso amar, você não aguentaria? E se eu quisesse experimentar como é nem mais em ti pensar, como eu faria? Eu não sei lidar comigo sem me ligar a você, eu fico aos soluços e sem jeito, fico sem fim e perdida nos meios, onde está quem esteve comigo no nosso começo? Porque se escreveu se não deu continuidade em mim? Porque se insinuou a sabe-se-lá-o-quê e não ficou para eu saber como poderia ser? Por que eu não sei lembrar de te esquecer? Porque eu me perco sem me achar, sem te ver, sem te encontrar e sem você se importar. Eu me tornei a absurda que escreve para um zé ninguém, mas que para mim tem olhos esverdeados que gritam em silêncio, que tem um corpo curvilíneo ocupando o espaço da cama que eu durmo sozinha, que tem cabelos longos e escuros que mais parecem um ímã ao meu afago. Eu não sei mais onde colocar tanta  dor, não me importo mais com a escrita perdida, a coesão fora esquecida, por que pensar em você ainda me traz as melhores lembranças mas é a memória mais difícil de se carregar sem que eu me entregue em lamúria recebendo só a carcaça do meu corpo em troca. Eu estou tão entregue sem ter onde que chega a parecer insanidade, impulsividade ou fantasia, a pira de ter caído numa mão única. Eu estou esperando por algo que não vai acontecer. Você tem outro alguém, você continuou a viver de forma que eu chego a duvidar se lembra do meu nome. É como se eu tivesse entrado numa outra dimensão, e então o mundo girou e me deixou aqui.

Raio de Amor.

Que raio de amor é esse que acolhe sem ter abrigo? Que raio de amor é esse que se sente sem ser sentido? Que raio de amor é esse que não se mede mas luta para ser contido? Que raio de amor é esse que não se encolhe quando repreendido mas não se ampara quando simula dar-se por vencido? Que raio de amor é esse com que não se brinca, mas que não é levado a sério por quem só o subestima? Que raio de amor é esse que não tem companhia, mas que não me larga e nem desatina? Que raio de amor é esse em que não há nós mas cisma com algum enlaço? Que raio de amor é esse que se alimenta de ilusões autoinfligidas mas que tem os joelhos falhos com memórias ainda tão vívidas? Que raio de amor é esse que passa meses com esperanças vãs? Que raio de amor é esse incessante e até delirante?

Ninguém cede ou descomplica, lhe fazem galhofa e ele suplica para que a emoção mantenha a chama viva, e a ele nada se nega, ele se incendeia acalorado quando só há gelo do outro lado. O raio do amor atormenta, não há surpresa, o raio do amor sabe que dali não há mais o que vir, mas ele só sabe sentir.

Pede-se que pare e que não mais bata, mas ele se chacoalha e num rompante dispara ao vislumbrar a amada. Pede-se que se contenha, e mesmo assim se atira, que raio de amor, que pira! Pede-se sossego e rendição, mas o raio do amor não conheceu a redenção.

Que raio de amor é esse que não desiste? Por que diabos insiste? Não há fracasso e nem ego ferido, mas ele não se encarrega de mudar o seu compasso, de trilhar outro caminho – de preferência pelo asfalto, de sair do ritmo e parar de faz de conta com tanto oxigênio dedicado, tanto pensamento nomeado, tanto sonho a dois que tivera e não deixara resguardado, tanta sensação que não se descreve mas mantem o sentimento declarado.

Mas que raio de coração que ao invés de bater só apanha.