Sentia um frio que em nada tinha a ver com a estação em que estavamos. Suas mãos congelavam, o que era comum mesmo sob um sol caloroso. Contudo, ainda era diferente ao ver seus membros endurecerem, a medida que se embolava neles, espremendo sua pelúcia que mantivera o tempo inteiro presa entre seu tórax e seus joelhos, pressionando-a contra o peito que era assaltado pelo vazio e pela dor lancinante.
Ela tinha suas crenças nada críveis, com ideias assombrosas, num destino fadado a desesperança e danação de sua alma corrompida. Era condenada a abrir os olhos através de noites regadas pela insônia, tendo seu organismo maltratado pela falta de químicas que ela ouvira falar apenas em sua única consulta médica. Não se tratava mais de frustrações adolescentes, de desilusões amorosas, de estar depressiva e ser consumida pela obsessão ao suicídio.
Ela estava exposta. Podia andar entre mundos, fazer contato com aqueles que foram dados como ausentes, ela não se encontrava na mesma dimensão daqueles que a rodeavam. E ela não se importava com a lágrima que deveria estar rolando sua face mas assim como ela, não estava onde deveria estar.
Em dias como esse, onde não houve nenhum resquício de luz ou uma centelha de claridade, onde apenas encontrou-se com o borrão de seu reflexo, escurecido e banhado pelo desespero, sem chances de encontrar a si mesma, ela sabia que não haveria mudança alguma se fosse atirada do andar mais alto, deitasse com o gás aberto, cortasse seus pulsos até seu corpo secar ou seja lá o que lhe aguardasse para completar a travessia.
Ela sabia que há muito não estava mais viva, e a morte era encantadoramente bem-vinda, assim como o suicídio lhe soava como terapia. Em sua centelha de energia, alucinava com a realidade que aquelas doces águas negras lhe ofereciam, quando envolviam seu corpo feito seda sob sua pele, arrancando-lhe do mundo em que penava. Ainda paralizada, tentou debalde fabricar um sorriso. Seus joelhos enfim cederam.
“Is like the finish line when everything just ends.”